Especial Brasil, aqui tem SUS: Boletim Diário como estratégia de enfrentamento da pandemia em Marilândia-ES

3 de novembro de 2020

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Boa parte da população de Marilândia, um pequeno município de 13 mil habitantes localizado no estado do Espírito Santo, trabalha na extração de café ou em fábricas de produção de roupas. Com a chegada da pandemia, a secretaria municipal de saúde percebeu a necessidade de criar um canal direto de comunicação com a população que vive no centro urbano ou em localidades afastadas para compartilhar informações sobre o enfrentamento da doença.

Durante cinco meses, diariamente, o secretário municipal de saúde Roberto Carlos Tardelli e a equipe de saúde entravam ao vivo nas redes sociais para divulgar o boletim epidemiológico do município, prestar conta das ações desenvolvidas e responder dúvidas dos moradores. Na programação eram divulgados números sobre a evolução da doença, as medidas adotadas para evitar a propagação do vírus, assim como orientações sobre como proteger a si e aos outros. Essa aproximação gerou maior confiança na população quanto ao cuidado recebido.

A construção do Boletim Diário virtual nas redes sociais criou ainda um canal de interlocução onde foi possível estabelecer a corresponsabilização pelo cuidado, evitando assim maior tensionamento diante de medidas impostas através de decretos estaduais. “Não adianta impor regras, precisamos conversar com a população. Chegamos a tirar os bancos das praças, mas isso não foi suficiente para evitar que as pessoas fossem para as ruas. Era fundamental o diálogo”, atesta o secretário municipal de saúde. Nem mesmo nos finais de semana as transmissões, veiculadas também na rádio da cidade, deixavam de acontecer.

Com o passar do tempo, profissionais de diversas áreas como medicina, fisioterapia e odontologia participaram dos programas com o intuito de levar orientações aos usuários sobre cuidados no ambiente domiciliar.  “Começamos a trazer os técnicos para conversar com as pessoas sobre o que fazer em casa. O programa surtiu o efeito desejado ao dizer para a população que não precisava ter medo, pois a secretaria estava aqui dando o máximo para combater o vírus. O importante da nossa experiência foi trazer a sociedade para o nosso lado”, comemora o secretário. O programa foi suspenso em função da legislação eleitoral.

Outras ações

A propagação do vírus se deu após um contexto de reformulação do sistema de saúde municipal, que resultou no acompanhamento digital de todos os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de um prontuário eletrônico, e na cobertura de 100% da população pela Estratégia Saúde da Família. “Na pandemia, nós remodelamos os atendimentos e, desde março, testamos todos os casos suspeitos utilizando o teste com antígeno, cujo resultado sai em meia hora”, afirma o secretário municipal de saúde.

A secretaria de saúde também investiu na reorganização do cuidado no ambiente de trabalho, utilizando-se de diversas estratégias de enfrentamento, dentre elas o cadastramento de quem chega ao município para a lavoura do café, o que permite maior acompanhamento, como também o monitoramento da temperatura dos funcionários na porta das fábricas. Trabalhadores da indústria com sintomas foram afastados e acompanhados em casa e as fazendas de café onde havia suspeita da doença ficaram em isolamento. “Foram atitudes que no começo pareciam impopulares, mas depois os moradores entenderam”, atesta Roberto.

Com a redução progressiva da disseminação do vírus, a estratégia agora é testar não só o paciente suspeito, mas todo entorno onde ele habita, higienizando também os ambientes com produtos não tóxicos. A medida resultou na redução do número de pessoas contaminadas de 22 para seis casos em 15 dias. Os usuários com diagnóstico confirmado da doença são acompanhados por via remota diariamente pelos profissionais de saúde e os casos mais complexos são encaminhados para o Pronto Atendimento (PA), que oferece atenção 24 horas. Quando há necessidade de internação, o paciente é referenciado para o hospital localizado no município de Colatina, a 25 km de Marilândia.

Aline, moradora de Marilândia, paga plano de saúde privado, mas quando adquiriu Covid-19 optou pelo atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). Grávida, ela conta que buscou assistência no PA 24 horas e foi imediatamente recebida pela equipe. “A partir do momento em que comecei a sentir os sintomas fui muito bem acolhida. Olharam todos os meus sinais, aferiram minha pressão e chamaram logo o médico pelo fato de eu estar gestante. Fiz o exame do swab e o resultado confirmando o diagnóstico ficou pronto na hora. Meu pai também pegou a doença e foi muito bem atendido. O SUS aqui de Marilândia foi efetivo no combate ao Covid-19 e eu sou prova viva disso”, agradece.

Até o dia 21 de outubro foram confirmados 483 casos da doença, dos quais 468 curados e 5 óbitos. O município realizou mais de 1.700 testes para diagnosticar a doença. Marilândia foi selecionada na I Mostra Virtual Brasil, aqui tem SUS para representar o estado do Espírito Santo no Congresso do Conasems.

Confira como foi a 5ª Roda de Conversa: